Título: A Vegetariana
Título em inglês: The Vegetarian
Autor: Han Kang
Editora: Todavia
Ano: 2018
A tradução para o português do romance que projetou internacionalmente a escritora coreana, nascida em 1970, é de 2018, mas a obra ganhou projeção internacional em 2024 com o reconhecimento da autora pela Academia Sueca.
Interessantemente, porém, o texto original é bem mais antigo. Cada uma das 3 principais partes foi publica em coreano entre 2004 e 2005 e reunidas em volume único, batizado com o nome Chaeshikjueuija (A Vegetariana), em 2007.
A tradução para a língua inglesa somente ocorreu em 2015! O resto é história e o best-seller foi traduzido em mais de 30 idiomas. Li o livro e ouvi o audiolivro. Difícil dizer qual é mais perturbador. A narração reforça o ar sombrio, por vezes desesperador, de toda a trama, mas a leitura propicia uma imersão sem igual.
Ambos os meios despertam uma angústia que nos faz refletir sobre nossa própria existência. A genialidade da trama reside na profundidade dos temas que restam adormecidos nas vidas mais banais. A protagonista é Yeonghye, esposa convencional de um Sr. Cheong, que confessa a perseguição de uma existência monótona em tudo o que faz (inclusive na escolha da esposa, que o fez de forma metódica e desapaixonada).
Isso até notar (logo no início da obra) que sua mulher parou de comer carne após um sonho estranho sobre sofrimento animal. Incrédulo, vê sua rotina ruir, incapaz de se conectar com quem nunca se conectara verdadeiramente.
O que poderia ser uma escolha alimentar simplória torna-se uma epopeia de incompreensão, abuso e desespero. A família e o entorno de Yeong-hye, patriarcais e conservadores, não entendem como uma mulher pode “rebelar-se” dessa forma e uma trajetória de desafio à sanidade mental inicia-se.
A trama evolui com a chegada de mais personagens, foco da segunda parte da novela, na qual, como a arte imita a vida, os abusos e repressões incitam os desejos e desaguam em relações amorosas, frustração, culpa e discriminação.
Os padrões rígidos da sociedade e da família estão em todo lugar no plot! Por fim, na terceira e última parte, a relação entre humanos e plantas torna-se ainda mais surreal e intensa, tal qual a saúde mental da personagem.
Sua identificação com as árvores são uma fuga de um mundo de crueldade, banalidade e intolerância, mas nos desafia a refletir sobre empatia, solidariedade e fraternidade. Estariam esses sentimentos tornando-se “divergentes” em um mundo mecânico, brutalizado e trivial? A obra não é trivial e se pudesse ser resumida em uma palavra talvez o vocábulo seria “inquietante”.
Uma das maiores joias da literatura contemporânea. Uma excelente leitura para inaugurar 2025!
Boa leitura!