Entrevista com  Maria de Fátima Brito Durães
Entrevista com Maria de Fátima Brito Durães
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Entrevista com Maria de Fátima Brito Durães

Edição 42
ISSN: 2357/7428
Janeiro, 2023
10 min

Presidente da Academia do Amazonas

Como começou a sua atuação na área contábil? Fale-nos um pouco do início e também sobre quais foram os mais relevantes aprendizados que a contabilidade lhe proporcionou até hoje?
Concluí o Curso Técnico em Contabilidade em 1980, então com 17 anos. À época, eu era estagiária da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, e o curso trouxe os elementos que eram importantes e necessários para o crescimento profissional. Em 1992, concluí o Bacharelado em Ciências Contábeis, já como concursada da Sefaz. Em 1994, solicitei desligamento da função pública e enveredei efetivamente pelos caminhos da Contabilidade, atuando em uma S/A de capital fechado. Esse foi o real momento da “virada de chave”. Com horizontes e perspectivas ampliados, iniciei na docência no ensino superior e montei um escritório de contabilidade, assessoria e consultoria, atuando na região sudoeste da Bahia. Em 1999 vim para Manaus e, em 2005, passei a coordenar o curso de Ciências Contábeis na Faculdade La Salle, função que exerci por quatorze anos. Engajei-me mais ativamente nas atividades do Sistema CFC/CRCs, por entender a necessidade de uma classe forte e atuante, com compromissos sólidos com vistas a uma sociedade melhor.
Vale ressaltar que cada objetivo traçado trazia em seu bojo as dificuldades inerentes da nova etapa, mas sempre estive consciente da necessidade da formação continuada, da conexão com os colegas profissionais e do trabalho em prol da classe contábil. Hoje, sinto-me realizada e grata às oportunidades que a Contabilidade tem me proporcionado.

Em suas palavras, como é atuar como presidente da Academia do Amazonas e quais são as principais ações e objetivos do seu mandato?
Presidir a Academia de Ciências Contábeis do Amazonas é um desafio estimulante. Nosso objetivo principal é o cultivo do conhecimento contábil e, mediante ação individual ou coletiva, a promoção da cultura contábil em todos os seus aspectos. Temos como propósito a interrelação e articulação da Ciência Contábil em suas diversas nuances – setor público, privado, instituições de ensino e órgãos de classe. Contamos com parcerias muito significativas, principalmente com o CRCAM (nossa sede é no espaço do Regional) e temos apoio irrestrito e a oportunidade de desenvolver um trabalho conjunto expressivo. O relacionamento com Sescon, Fenacon e conselhos de Administração, Economia e OAB tem nos possibilitado diálogos e ações relevantes.
Para 2023, além de questões socioambientais, abraçamos a produção científica como propósito maior, à luz do projeto da Abracicon – Concurso Nacional de Monografia de Graduação em Ciências Contábeis, iniciando um trabalho conjunto e cooperativo com as coordenações de Curso, para que possamos ter trabalhos com temas atuais, úteis e relevantes.

A sociedade vem aprendendo a valorizar, cada vez mais, a Contabilidade. Na sua opinião, como está o cenário da profissão contábil?
Apesar de todas as turbulências econômicas, sociais e morais que ora atravessamos, vemos a contabilidade como uma bússola, norteando ações, zelando pelos patrimônios, delimitando caminhos. Ouço há quase quarenta anos “a contabilidade está morrendo”, “não há mais espaço de trabalho”, “as máquinas fazem tudo”. Na realidade, se analisarmos as mudanças nas últimas décadas, vemos o cenário de oportunidades que se desenha à nossa frente. Nunca antes se precisou tanto de profissionais competentes, atualizados, comprometidos, dotados de ações orientadoras, preditivas e com políticas de compliance organizacional. Mas, para que nos apropriemos desse novo cenário, há a necessidade premente de mudança de postura, comportamento e autogestão da carreira.

Na sua visão como docente na área contábil, como está o desenvolvimento profissional dos profissionais da contabilidade do Amazonas e do Brasil?
Notamos claramente duas realidades: a daqueles que se aprimoram e se preocupam com o saber-fazer contábil e, por outro lado, a dos que apenas seguem… Talvez por ainda não se aperceberem da realidade que os cerca. Promovemos e acompanhamos uma série de oportunidades de encontros, aperfeiçoamentos, possibilidades de network sem a participação e envolvimento efetivos.
Para além das salas de aula, as academias (brasileira e estaduais), câmaras de desenvolvimento profissional, comissões, CRC Jovem, entre outros, vêm promovendo ações no sentido despertar esse sentimento de pertença e a vontade de fazer a diferença. Nossa classe tem representações competentes e muito fortes. Profissionais comprometidos e atuantes que buscam esse crescente desenvolvimento. É raro encontrar órgão representativo de classe com tamanha força e pujança quanto o nosso.
Mas nos deparamos com uma série de obstáculos: segundo dados do Semesp – Mapa do ensino Superior 2022, a região Norte possui o menor número de matrículas do país. Juntando as modalidades presencial e EAD, a região representa apenas 7,8% da educação superior do Brasil. O Amazonas, estado com a maior extensão territorial do país (área de 1 559 167,878 km²), com 4,2 milhões de habitantes, concentra 52% da população na capital, Manaus. Alcançar os demais municípios é um outro desafio. Falta de interligação por via terrestre, rios que nem sempre são navegáveis, distância geográfica, falta de acesso à internet de qualidade são alguns aspectos que podem ser citados. Mas vamos buscando caminhos, traçando rotas, contornando situações, firmando parcerias com vistas à formação de qualidade e educação continuada. Ainda temos um longo caminho a percorrer.

Quais são os principais desafios que o setor educacional contábil enfrenta nos dias de hoje?
Existe um hiato muito grande entre teoria e prática. Urge que tenhamos estruturas (matrizes) curriculares voltadas ao desenvolvimento de habilidades e competências, trazendo o estudante para o centro do processo e protagonista de sua aprendizagem. Necessitamos pensar inicialmente o perfil desejado para este novo profissional e, a partir daí, traçar currículos com caminhos inovadores, atrativos e coerentes com o que o mundo dos negócios e a sociedade almejam na atualidade. Precisamos desenvolver uma nova geração de pensadores, de cientistas e, não apenas, repetidores e seguidores de receitas prontas. “Formamos” profissionais para atuarem em empresas e cenários em constante mutação e que talvez até ainda não existam. Assim, o setor educacional precisa entender que as ferramentas do aprender a aprender precisam estar presentes a todo momento, através da pesquisa, investigação, estudos in loco, cases, de forma a fomentar a possibilidade de apreender a nova realidade, articulando os referenciais teóricos e/ou legislações, aplicando-os a cada situação real distinta.

A especialização e a pós-graduação é um caminho certo para o sucesso na área contábil?
Não digo que “um caminho certo”, mas um caminho necessário. Conhecimentos de ordem geral, assim como os transversais e interdisciplinares são de fundamental importância, principalmente para um entendimento global e holístico de mundo, assim como das entidades nele contidas. Mas, se analisarmos as características próprias de cada patrimônio e as necessidades específicas – inclusive por força de lei, deparamo-nos com peculiaridades que necessitam de uma atenção maior. Mesmo conhecendo contabilidade como um todo, em algum momento preciso me dedicar mais a algum segmento específico, sob pena de não atender bem a nenhum.

O papel da Academia na classe contábil
A Academia de Ciências Contábeis do Amazonas insere-se no importante papel de pensar e difundir a ciência Contábil junto à comunidade acadêmica, profissionais e segmentos sociais, em prol da crescente valorização da classe contábil. Utilizamos nossos saberes, habilidades e competências a serviço da ética, do compromisso social, com um olhar de cuidado para a ecologia integral e nossa casa comum. Pensar o saber e fazer contábil demonstra a importância e o valor que temos para a sociedade brasileira, pois a valorização começa por cada um de nós, em seu âmbito de atuação, mas se agiganta no momento em que nos irmanamos em função de um mesmo objetivo.