Acadêmica Sandra Carvalho Campos
Acadêmica Sandra Carvalho Campos
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Acadêmica Sandra Carvalho Campos

Edição 46
ISSN: 2357/7428
Janeiro, 2024
20 min

Já estou há uns bons anos nessa jornada de contadora. Em 1980, graduei-me em Ciências Contábeis e em Administração de Empresas em 1981, pela PUC Minas. Nasci em Belo Horizonte e sou a mais velha dos 5 filhos dos meus pais, Silvia e Camilo. Severas dificuldades financeiras nos levaram de mudança para o norte de Minas Gerais, primeiro Janaúba e depois Montes Claros. Nessas duas cidades, eu fiz o ginásio e o segundo grau – magistério (como dizia minha mãe: uma profissão) e científico. Em seguida, eu me mudei para Belo Horizonte onde as opções de continuar os estudos e, ao mesmo tempo, trabalhar eram muito maiores.

Nos anos em que moramos em Janaúba, a cidade não tinha luz elétrica (energia só das 18 às 22h30), não tinha TV, mas tinha uma sala de cinema e a cereja do bolo: um jornal impresso, “O Gorutuba”, que era uma certeza todos os domingos.

O jornal foi fundado pelo meu avô, farmacêutico e jornalista Bicalho Brandão. Aos 12 anos comecei a trabalhar no “O Gorutuba”, primeiro revisando a composição que vinha da tipografia, depois corrigindo “o português” (foi quando desenvolvi o vício em leitura de livros de gramática), mais tarde assinando uma coluna sobre os assuntos da sociedade gorutubana e arriscando-me a escrever poemas e crônicas.

Mas o melhor da festa foi quando meu avô decidiu que eu ia assinar uma coluna de horóscopo. E como fiz isso? Já que o sinal de TV ainda não havia chegado a Janaúba, eu passava todo o meu tempo lendo e aos 15 anos tinha lido todos os livros da biblioteca do colégio, entre eles muitas biografias. Como o jornal era semanal, eu buscava uma personalidade histórica nascida em um dos dias daquela semana e desenvolvia o perfil dos nascidos no período. Por exemplo: Juscelino Kubitscheck nasceu em 12 de setembro, logo o perfil dos nascidos naquele período tinha suas características: visionários, empreendedores, carismáticos etc. Quanto aos demais signos, era só dizer: cuidado com falsas amizades, com a saúde, controle seu dinheiro; dê mais atenção à pessoa amada e às relações em família, reserve um tempo para o autoconhecimento…

MAS ATENÇÃO! Por favor, saibam todos que respeito profundamente a astrologia e adoro ler sobre meu signo (Virgem). Eram outros tempos…

A falta de luz elétrica e TV também me levou a aprender a tocar violão “de ouvido”, sem professor. Eu tocava e minha mãe cantava, com sua voz belíssima e afinada. Nossas tardes, com a família reunida na calçada, eram deliciosas.

Com 18 anos, voltei para Belo Horizonte e logo comecei a trabalhar. Um ano depois passei no vestibular. No trabalho conheci o Aluísio, meu marido, que na PUC fazia os mesmos cursos que eu, mas 1 ano atrás. No ano em que me formei em Contábeis, passei no concurso do BNH e, no ano seguinte, já tinha um cargo de chefia. Essa chefia foi um grande desafio, pois o time era todo de pessoas mais velhas e experientes do que eu (então com 24 anos). Eu era a única contadora no time de advogado, engenheiro, arquiteto e economista.

Em 1993 passei no concurso do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais e lá permaneci até me aposentar. No TCEMG, fui diretora de auditoria externa, professora da Escola de Contas, membro da assessoria de conselheiro. Nesse meio tempo, ministrei aulas em cursos de pós-graduação, todos voltados para controles interno e externo da administração pública.

No início dos anos 2000, tornei-me conselheira do CRCMG e exerci as vice-presidências de Administração e Finanças, de Desenvolvimento Profissional e de Fiscalização. Nesse tempo fiz parte de várias comissões técnicas no CRCMG e no CFC, e dentre estas eu destaco o Grupo Assessor do CFC, responsável pela redação do primeiro conjunto de Normas Brasileiras Aplicadas ao Setor Publico, as NBCASP 16.1 a 16.11, no processo de convergência da contabilidade pública brasileira aos padrões internacionais: as IPSAS.

Em 2012, fui convidada a fazer parte do time de sócios da KPMG, com a missão de implantar a metodologia da firma para implantação das NBCASP no setor público em âmbito nacional. Esse convite foi um dos marcos importantes da minha vida profissional e pessoal, pois sempre fui uma servidora estudiosa e dedicada sem esperar muito em troca, já que isso no serviço público não é relevante para desenvolvimento na carreira. Então, quando recebi esse convite, eu me vi pelos olhos do mercado, em especial uma área de tal magnitude, e daí eu pude ter uma visão ampla e ordenada do currículo que eu havia construído na minha vida profissional.

Em 2019, com uma amiga, fundamos a Rezende & Campos Consultoria e Assessoria em Gestão Pública.

Minha trajetória na profissão contábil tem sido gratificante e o reconhecimento que tenho obtido deixa meu coração bem quentinho: Medalha Emílio Moura de Mérito Profissional do TCEMG, membro da Academia Brasileira de Ciências Contábeis ocupante da Cátedra 2, membro da Academia Mineira de Ciências Contábeis, Prêmio Roberto Casas Alatriste pelo trabalho apresentado na XXXIII Conferência Interamericana de Contabilidade… e tantos outros “presentes”.

Em 1984, Aluísio e eu nos casamos e em 1985 tivemos o Luiz Marcelo e, em 1987, a Anna Marina, duas pessoas de bem que Deus confiou aos nossos cuidados como pais. Um amor desmedido e uma honra ser a mãe deles dois.

A vida me presenteou também com 2 netinhas, a Bia e a Sossô: amor em dose dupla, meu coração batendo fora do peito. São gêmeas idênticas fisicamente, mas cada uma com sua personalidade tão específica que as tornam distintas uma da outra. Ana Beatriz e Ana Sofia são filhas do meu filho, que, em 2023, nos deixou depois de lutar com muita garra contra um câncer. Meu guerreiro Luiz Marcelo hoje está em outro plano físico, mas bem juntinho de nós em nosso amor. E, em poucos meses, minha filha Anna Marina vai trazer ao mundo mais uma pessoinha que já nos inunda de amor: um netinho, Marcelo.

E aí está um pouquinho da minha história que tenho agora o maior prazer (e orgulho, por que não?) de compartilhar com vocês.