Título: Lying for Money
Autor: Dan Davies
Ed: Profile Books
Ano: 2018
Este não é um livro tão recente, mas seu conteúdo é atualíssimo (o que surpreende é ainda não possuir tradução para o português). Essa obra de Dan Davies deveria ser leitura obrigatória para todos os contadores e administradores.
Como ele mesmo menciona na introdução, não para ser utilizado como um manual de fraudes, mesmo porque os fraudadores normalmente não “se dão bem”. Deveria ser leitura obrigatória para que se entenda que a fraude dificilmente pode ser eliminada de nossos negócios, pois possui a mesma natureza da economia: a eficiência.
A busca de um equilíbrio entre os controles necessários e a fluidez dos avanços é a motivação para a trapaça segundo o autor. Ele não traz essa afirmação como uma opinião genérica ou sem base. Ele analisa em detalhe diferentes tipos de fraudes, separando-as em uma tipologia única. Obviamente que nos casos concretos analisados, por vezes mais de um tipo de fraude ocorre, mas a separação dos elementos definidores de cada tipo permite entender o que os distingue.
A fraude comercial da quebra planejada de uma empresa (The Long Firm, ou Bust-out), por exemplo, surge em diferentes disfarces. Porém, em todos, o modus operandi do tipo está presente. Seja pela compra de ativos sem intenção de honrar o fornecedor, seja pela venda de algo que simplesmente não existe. Pode parecer distante, mas não vemos isso diariamente no mundo de criptoativos? Não vimos operações de risco sacado sem pagamento em varejistas recentemente? (obviamente, em muitos casos, ainda não se confirmou a fraude com o fim das investigações).
O autor traz ricos detalhes mesmo das histórias que são nossas conhecidas, como os contratos inexistentes da Enron, o esquema de pirâmide de Madoff e o caso do cassino de Donald Trump. Outras histórias são provavelmente desconhecidas de muitos. Eu não sabia que o esquema original de Ponzi envolvia a compra de cupons/selos internacionais (IRC – International Reply Coupon) e que mesmo essas operações nunca existiram em larga escala, senão para justificar empréstimos em forma de pirâmide (Ponzi morreu pobre e no Rio de Janeiro, em 1949, a propósito). Surpreendi-me também com a ligação entre o início da ditadura de Salazar (que era professor de economia) em Portugal e uma contrafação envolvendo o Banco de Portugal, de Angola e um intrépido fraudador, Artur Virgílio Alves dos Reis (cf. “O Homem que Roubou Portugal”). As notas falsas inundaram o país e desestabilizaram o sistema bancário.
Se o “golpe financeiro” acelerou o “golpe militar” é difícil precisar, mas o esquema de contrafação de Alves dos Reis ainda é considerado o maior caso de falsificação de notas da história! Bem, entre fraudes envolvendo criptomoedas, drogas, óleo de soja, criação de pombos, e dinheiro vivo, obviamente que a adulteração de livros contábeis merecia um capítulo especial. Em “Cooked Books”, nota-se o quanto precisamos avançar na formação de contadores que se pautem pela ética e possuam os “soft skills” necessários para não se dobrar a empresários inescrupulosos.
O sistema de formação do contador não pode ignorar ou negar a existência de fraudes, incluindo-se as de natureza contábil. Deve ofertar aos profissionais o mais amplo conhecimento sobre o assunto, para que se possa identificar e atuar contra quem não se pauta pela ética. Para isso, o livro de Davies é uma ótima ferramenta.