Entrevista com Antônio Miguel
Entrevista com Antônio Miguel
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Entrevista com Antônio Miguel

Edição 45
ISSN: 2357/7428
Outubro, 2023
5 min

Presidente da Academia de Ciências Contábeis do Estado do Rio de Janeiro (ACCERJ)

Presidente, quais foram as principais metas alcançadas e quais são os desafios para o próximo ano do seu mandato à frente da presidência da ACCERJ? 

As principais metas estabelecidas foram a de tornar a ACCERJ mais conhecida no meio acadêmico educacional, por meio do ingresso de novos confrades (pesquisadores); do estabelecimento de aproximação com a sociedade fluminense; e do fortalecimento do relacionamento da ACCERJ com as demais entidades contábeis. 

A ACCERJ promoveu a edição de um livro (está no prelo) contendo capítulos com temas conexos elaborados pelos acadêmicos. O livro deverá ser lançado no início de 2024. O meu mandato se encerra em dezembro de 2023 e continuarei colaborando com a entidade sob a égide do novo ou da nova presidente. 

Durante sua gestão como presidente do CRCRJ, entre 2006 e 2009, quais foram as principais realizações que você acredita que deixou como legado para a contabilidade no Rio de Janeiro? 

A maior aproximação da Academia com o interior do Estado do Rio de Janeiro com a admissão de novos acadêmicos oriundos de regiões diversificadas (Sul, Serrana, Região dos Lagos); e a participação em conjunto com o CRCRJ de eventos de valorização profissional e de incentivos às novas lideranças. 

Sua formação como mestre em Ciências Contábeis pela UERJ certamente traz uma perspectiva acadêmica para sua liderança. Como esse background acadêmico influencia sua abordagem e visão como presidente da ACCERJ? 

A Academia deve e está se movimentando para cumprir com o seu principal papel: a produção de pesquisa acadêmica. Atualmente, integram o corpo de acadêmicos diversos doutores, livredocente, mestres e doutorandos (como é o meu caso). 

Então o objetivo é participar, em conjunto com o CRCRJ, no incentivo, no julgamento e na divulgação de artigos e livros científicos e tecnológicos da Contabilidade. 

Desde 2006, você é um membro ativo da ACCERJ. Como você viu a Academia evoluir ao longo dos anos, e quais mudanças significativas aconteceram sob sua liderança? 

As mudanças ocorreram ao longo de diversas gestões, não só a minha, em especial, mas a gestão do Acadêmico Aroldo Planz, que promoveu o 1º Encontro das Jovens Lideranças Contábeis no Rio de Janeiro, em 2018, em parceria com o CRCRJ. O evento teve cerca de 500 (quinhentos) participantes. 

Todos os confrades e confreiras são muito importantes na trajetória da Academia, porém gostaria de destacar a ajuda de alguns durante o meu mandato: as contadoras Maria Alípia e Diva Gesualdi; e os contadores Aroldo José Planz, Ril Moura, Mozart e Gilvan e, em especial, a minha vice-presidente Ester Pildervasser, os quais têm ajudado a manter a ACCERJ de pé e em progresso. 

Em sua trajetória, você foi reconhecido com a Medalha Pedro Ernesto e a Medalha Professor Orlando Martins Pinto. De que maneira essas honrarias impactam seu compromisso com a contabilidade e a educação contábil? 

Eu sempre digo que devo à Ciência Contábil, à Contabilidade, tudo o que consegui na vida material, profissional e pessoal. 

Ao concluir o curso Técnico em Contabilidade, vislumbrei o meu caminho profissional correto e, para alcançar e traçar esse caminho, fiz a graduação em Ciências Contábeis. 

Tornar-me contador foi o início de uma vida de estudos, sempre no campo da Contabilidade, e tive a oportunidade de cursar, em seguida, a graduação em Administração de Empresas. 

Fiz pós-graduação em Ciências Contábeis na FGV, em 1985. Por conta dos compromissos profissionais só pude retornar ao programa de mestrado em Ciências Contábeis, em 2002, na UERJ, após ser aprovado no processo seletivo. Consegui defender a minha dissertação em 2005, com louvor. 

Estou no magistério desde 1986, tendo exercido cargos de professor, coordenador e diretor de instituição de ensino. Atuo na graduação e, atualmente, na Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, desde 2003, e na pós-graduação, na FGV, desde 1999. 

Portanto, a educação é o campo profissional em que tenho maior prazer em atuar. Poder formar novos contadores e, em alguns casos, eles se destacarem na sociedade, é o meu maior orgulho.

Como membro da Academia Nacional de Economia desde 2009, qual é a sua visão sobre a relação entre economia e contabilidade? E qual é o papel da ACCERJ nesse contexto? 

A ANE depois da Academia Brasileira de Letras é a entidade mais antiga no país. É multidisciplinar, acolhe e agrega diversas formações científicas, entre elas, a Contabilidade. 

A Economia e a Contabilidade pertencem às Ciências Sociais, logo têm conceitos diferentes, porém interesses comuns, já que, pelo processo de divulgação das informações contábeis (patrimoniais), a sociedade pode e deve tomar decisões com segurança, e a Economia, por meio dos conceitos e metodologias micro e macroeconômicas, faz avaliações dos desempenhos empresariais, setoriais e governamentais, além de produzir um conjunto já conhecido de indicadores futuros (inflação, PIB, resultado da Balança Comercial, de Pagamentos, etc.) 

A Economia necessita de informações geradas pela Contabilidade para poder cumprir o seu papel informacional (análises e tendências). 

Por fim, qual mensagem você gostaria de deixar para os jovens contadores e estudantes que estão iniciando suas carreiras e veem na academia uma possibilidade de crescimento profissional? 

Não há desenvolvimento humano sem a educação. O estudo continuado, aliado à pesquisa científica, permite o desenvolvimento tecnológico em todos os segmentos. 

Se olharmos para o início do século XX para os nossos dias, perceberemos, que, por permissão do Criador, conseguimos nos desenvolver, ter maior qualidade de vida, viver mais. Nada do conquistado veio de mão beijada. 

O progresso que desfrutamos traz benefícios, mas muitas injustiças sociais e, em alguns casos, miséria para os menos favorecidos. A Contabilidade é uma ciência em constantes mutações e que deve adaptar os seus conceitos, axiomas, princípios e convenções a esse novo quadro que está aí e que poderá se modificar de maneira relevante nos próximos anos. 

Muito do que se pratica hoje, em termos contábeis, desaparecerá em função do desenvolvimento da IA – Inteligência Artificial. Funções contábeis subalternas e repetitivas já estão sendo realizadas automaticamente por sistemas informatizados. Para que você cresça realmente na Contabilidade, deve haver a consciência que os seus estudos devem ser profundos, além daqueles específicos em temas contábeis. 

Um profissional respeitado pelo mercado é aquele que tem cultura geral de boa qualidade, pois facilita o processo de comunicação. O domínio de outras línguas é importantíssimo, pela globalização crescente da economia. 

O aprendizado consistente da leitura e interpretação de dados estatísticos descritivos, fundamentos de Econometria, finanças básicas, tornarão o Contador, dos próximos anos, um profissional multidisciplinar, mais interativo e importante no processo decisório das empresas. Em suma, recomendo que o estudo deve ser uma constante nas suas vidas, independentemente da idade, se vivemos cada vez mais, temos que estar preparados para o que teremos que enfrentar. 

Eu, aos 66 anos, resolvi realizar um sonho, cursar um programa de doutorado em Contabilidade. Se eu decidi por esse caminho, todos podem me plagiar, com a vantagem de serem mais jovens. 

A nossa profissão está cada vez mais ficando feminina; o número de mulheres cresceu muito nos últimos 25 anos e considero um traço muito positivo, pois a sensibilidade inerente ao gênero tornou a nossa profissão mais próxima do seu mercado consumidor (as empresas em geral). 

Desejo aos jovens contadores muito estudo e a boa colheita de sucessos!

Antonio Miguel Fernandes é mestre em Contabilidade, especialista em Contabilidade, contador e administrador de empresas. Está cursando o doutorado em Contabilidade. 

Sua experiência profissional inclui o cargo de Superintendente de Controle do BNDES, chefe de Auditoria Interna do BNDES e auditor interno e independente com mais de 40 anos de experiência. 

É empresário contábil de empresa nos ramos de auditoria independente, consultoria tributária e de gestão e contabilidade, na Cidade do Rio de Janeiro. Possi docência em cursos de Contabilidade. 

Atuação como membro de Conselhos Fiscais e de Comitês de Auditoria; vogal da Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro; ex-presidente do CRCRJ (2006-2009) e ex-vicepresidente do Conselho Federal de Contabilidade (2010-2015). 

Atualmente é presidente da Academia de Ciências Contábeis do Estado do Rio de Janeiro (ACCERJ) para o biênio 2022-2023. 

Foi presidente da APA-FAPES-BNDES (2017-2019 e 2020-2022). É representante dos assistidos no Conselho Fiscal da FAPES (2021- 2023) e presidente do Conselho Fiscal da FAPES (2023-2025).