Nunca é tarde para iniciarmos um novo desafio
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Nunca é tarde para iniciarmos um novo desafio

Edição 45
ISSN: 2357/7428
Outubro, 2023
20 min

Por Luiz Rogério Farias 

Minha jornada acadêmica rumo ao doutorado começou com uma motivação profunda e um forte desejo de aprimorar meu conhecimento. Enfrentar os desafios dessa jornada, no entanto, não foi tarefa fácil. Iniciei o doutorado com 67 anos, 15 anos após ter concluído meu Mestrado, e posso afirmar que nunca é tarde demais para começar algo novo. 
Ao contrário do que muitos podem pensar, o doutorado não é apenas para os que estão iniciando a carreira, mas para todos que tem vontade de continuar atualizando e aperfeiçoando o conhecimento. 
Em 1979, meu ingresso no mundo bancário se deu no Banco Bamerindus do Brasil. À época, minha vida profissional estava em etapa inicial, e eu atuava como analista em projetos de contabilidade. 
O ano de 1982 registrou um marco significativo quando assumi a posição de gerente de planejamento e organização contábil. Foi um fato que considerei importante para a evolução da minha carreira, na medida em que passei a liderar equipes de trabalho. Conforme o tempo avançava, minha trajetória no banco se assemelhava a uma montanha-russa, cheia de curvas inesperadas e desafios elevados. 

Em 1997, a incorporação do Banco Bamerindus pelo prestigioso HSBC Bank abriu um capítulo novo e desafiador. Nessa oportunidade, fui confiado para uma tarefa verdadeiramente única e desafiadora: ser o contador de ambos os bancos, conhecidos como o “old bank” e o “new bank” pelos ingleses.

Essa responsabilidade contábil por duas entidades jurídicas demandava equipes altamente capacitadas, com sólidos conhecimentos técnicos. Além disso, era crucial atender aos requisitos dos órgãos reguladores nacionais, como o Banco Central e a Receita Federal, bem como às diretrizes e procedimentos contábeis do Reino Unido, conhecidos como UK GAAP, para fins de consolidação de balanços em escala global. Paralelamente às minhas atividades no HSBC, o desejo de compartilhar conhecimentos me levou a ingressar como professor na Faculdade de Administração e Economia (FAE), em 1986. 

Esta oportunidade de ensinar foi um privilégio que eu abracei com entusiasmo. Em 1990, após passar por um concurso público, fui nomeado professor no UFPR – Departamento de Contabilidade – em abril de 1991, instituição de ensino superior na qual permaneço até hoje. 

No entanto, meu compromisso com o ensino não diminuiu minha busca por novos horizontes acadêmicos. Em 2000, recebi novo convite e retornei como professor à FAE, e ocorreu uma parceria empolgante da FAE com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que resultou na oferta de um programa de mestrado em Engenharia de Produção, do qual participei e concluí em 2003. Em 2012, após mais de 32 anos atuando em instituições financeiras, encerrei minha jornada no HSBC, e surgiu um novo capítulo. 

Recebi um convite para assumir a Diretoria de Administração e Finanças da Fundação de Apoio da Universidade Federal do Paraná (Funpar). Posteriormente, ocupei a posição de Superintendente da entidade até o início de 2016. Durante esses quatro anos, também desempenhei um papel ativo na Diretoria do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies), um órgão centralizado em Brasília, Distrito Federal. 

A partir desse ponto, direcionei minha energia exclusivamente para a UFPR – Setor de Sociais Aplicadas – Departamento de Ciências Contábeis, onde atuei como docente em cursos de graduação e pós-graduação, chefiei o departamento e coordenei curso de Especialização em Contabilidade e Finanças. 

Em 2018, após um período de reflexão profunda e com o apoio da minha família, tomei uma decisão considerada audaciosa. Inscrevi-me no Programa de Doutorado em Contabilidade oferecido pelo PPGCont – Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal do Paraná. Apesar de estar em constante contato com trabalhos acadêmicos devido ao meu posto como docente, já se somavam 15 anos desde a conclusão do meu mestrado. Havia o receio de não dar conta da atividade, já que o Doutorado exige extensas horas de estudos, pesquisas e trabalhos específicos. 

Mesmo assim, resolvi aplicar. Após ser aprovado no rigoroso processo de seleção, iniciei as disciplinas regulares em março de 2019. Esta fase do Doutorado me colocou em contato com alunos jovens, muitos deles com idades entre 25 e 30 anos. No entanto, meu compromisso pessoal com o desafio foi inabalável. 

Eu buscava constantemente resiliência, humildade, tolerância, espírito de equipe e colaboração em todas as situações enfrentadas, como estudante de doutorado já próximo dos meus 70 anos. 

Durante o ano de 2020, enfrentamos desafios adicionais devido à pandemia de Covid-19, que exigiu a adaptação às aulas remotas e ao uso de novas ferramentas. Com esforço adicional, consegui me adaptar e manter o programa do curso conforme planejado. Participei de todas as atividades exigidas e minha frequência foi de 100% em todas as disciplinas. 

Após concluir as disciplinas regulares, chegou o momento crucial de definir minha tese. Essa fase foi particularmente desafiadora, com muitos temas avaliados, horas de reflexão e dúvidas constantes sobre forma, conteúdo e metodologia. A busca de fontes de dados, a leitura de artigos e livros demandaram inúmeras horas de dedicação, muitas vezes sacrificando feriados e finais de semana. 

Em colaboração com professores e colegas de curso, também elaborei artigos acadêmicos que foram apresentados em congressos internacionais e publicados em revistas especializadas. 

Finalmente, em agosto de 2023, defendi minha tese com sucesso, e em setembro de 2023 fui agraciado com o título de Doutor em Contabilidade pela UFPR. Este desafio foi cumprido com excelência, e quero inspirar alunos, de quaisquer idades, que estão em seus cursos e aqueles que têm a intenção de ingressar em programas de doutorado a seguir em frente. 

Com foco, força e fé, confiando em si mesmo! Gostaria de enfatizar que a vida é uma dádiva divina repleta de oportunidades únicas que devemos abraçar com coragem, confiança e determinação. Nem sempre são momentos ideais, mas são situações singulares que moldam nosso crescimento pessoal e profissional!