A Concentração do Conhecimento Produzido no Brasil: Desenvolvimento da Economia Regional
A Concentração do Conhecimento Produzido no Brasil: Desenvolvimento da Economia Regional
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A Concentração do Conhecimento Produzido no Brasil: Desenvolvimento da Economia Regional

Edição 38
ISSN: 2357/7428
Janeiro, 2022


Resumo

Este artigo apresenta, de forma resumida, resultado de pesquisa que investiga a concentração de conhecimento produzido no Brasil, no horizonte de tempo 2013 a 2018, por Unidade da Federação, utilizando metodologia espectral, com o objetivo de avaliar como a produção de conhecimento está distribuída e como impacta a renda das famílias.

Os resultados aportam significativas evidências da desigualdade regional da produção de conhecimento e do impacto na renda das famílias. A Unidade da Federação (UF) com melhor desempenho, por reduzir as desigualdades, é o Estado do Rio Grande do Sul.

Palavras chave: Produção de conhecimento. Metodologia espectral. Desigualdade regional.

Autor

Doutor em Contabilidade e em Economia; Professor do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais Universidade de Brasília (UnB).

franca@itecon.com.br
https://orcid.org/
0000-0002-8233-3620

José Antonio de França

1. Introdução

Este artigo traz para discussão resultado de pesquisa que investiga a produção de conhecimento no Brasil. O conhecimento como uma vicissitude dos Seres Humanos, difuso na literatura, é construído em processo de aprendizagem, por meio da observação e da investigação, cujos benefícios trabalham em favor da vida e da melhoria da sociedade.

O conhecimento, como promotor de agrupamento de pessoas e da atividade econômica, estimula aparição de aglomerações urbanas, aumenta do nível renda e, consequentemente, produz bem-estar social, como abordado por Marshal (1890) e discutido por Haig (1920) e Florence (1929).

O conhecimento abordado neste texto é produzido por meio de processo continuo contínuo e formal de aprendizagem, que acumula capital humano, intangível, no contexto de uma política pública de educação, em nível stricto sensu.

Esse processo, como observado por Richardson (1953-I), é imperfeito e fragmentado porque cada indivíduo conhece apenas uma pequena parte do que deveria conhecer.

É também incerto porque vem de estimativas ou opiniões pessoais que podem diferir e não podem ser avaliadas como verdadeiras ou falsas, podendo ser até conflitantes.

A partir desta simples contextualização, avalia-se a concentração da produção de conhecimento no Brasil, como uma política pública, em nível stricto sensu, agregada por Grande Área, Deixar e região, no horizonte de tempo 2013 a 2018, com utilização de metodologia espectral em três dimensões, abordada pela literatura de aglomerações e aplicada ao desenvolvimento regional, como discutida por De França (2020) e De França e Sandoval (2021), com o objetivo de investigar quão igual/desigual é o conhecimento é produzido no Brasil, por região, e como a renda das famílias é impactada.

Os indicadores utilizados para avaliação são o quociente de locação (QL) e o índice de concentração de conhecimento (IC).

As Grandes Áreas e as Áreas são as definidas pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Região é cada uma das Unidades Da da Federação (UFs).

A concentração do conhecimento, em contexto estatístico, significa que quanto mais próximas das métricas dos indicadores estiverem as observações da produção de conhecimento, por região e unidade de tempo, menor será a desigualdade regional. Caso contrário, quanto mais distante, maior será a desigualdade. É neste contexto que se espera que os achados do artigo possam ser úteis para auxiliar gestores na avaliação de políticas públicas e pesquisadores em pesquisas relacionadas com o tema.

2. O conhecimento alavancando o desenvolvimento regional

O conhecimento é um insumo que alavanca o desenvolvimento de uma região e/ou de uma nação, como alocação de capital, porque capacita e especializa o capital humano, como argumenta Romer (1996), aumenta e melhora a produtividade pelo uso adequado da tecnologia, uso racional dos recursos naturais e pela melhoria dos processos, como discutem Quatraro (2010), Cooke et al. (1997) e Antonelli (2008) e, ainda, por interagir com outras setores da economia, como mostram os achados de Zabala-Iturriagagoitia, Voigt, Gutiérrez-Gracia e Jiménez-Sáez (2007) em estudo aplicado em parte da União Europeia.

A escolha local da alocação de capital, como abordada por Furtado (2006, pp. 232-233), é estimulada pelo ganho de produtividade e pela formação de preço. A combinação dessas duas variáveis impacta a instalação da atividade econômica de algum setor, em uma região mais do que em outra, e desafia as políticas públicas na busca de solução que minimize esse efeito com vista a equalização da produção regional.

O conhecimento, como promotor de agrupamento de pessoas e da atividade econômica, estimula aparição de aglomerações urbanas, aumenta do nível renda e, consequentemente, produz bem-estar social.

Políticas públicas, neste contexto, resultam da dinâmica das relações de poder constituídas por grupos econômicos e políticos, classes sociais e outras organizações da sociedade civil, que direcionam as ações de intervenção administrativa do Estado na realidade social e/ou investimentos, como abordadas por Boneti (2017).

3. Metodologia

A metodologia espectral, não paramétrica, é sustentada no Quociente de Locação (QL) estendido a três dimensões: geografia, economia e tempo, definido pelo quociente das matrizes  regionais  de QL, e no índice de concentração do conhecimento (IC). Ambos indicadores medem a concentração dos setores da economia, representados pelas Grandes Áreas e Áreas, por região no horizonte de tempo, na perspectiva ótima, quando QL tende a 1 e IC tende a zero. Vide modelo completo em De França e Sandoval (2020).

4. Análise dos resultados

Para desenvolver a análise e obter os resultados foram utilizadas 471.308 produções de conhecimento, sendo 352.616 produções em nível de mestrado (dissertações) e 118.692 em nível de doutorado (teses), distribuídas em 6.877 programas de pós-graduação ofertados nas 27 Unidades Da da Federação (UFs) em 4.564 especialidades.

Os resultados obtidos sugerem que o conhecimento produzido no Brasil é regionalmente desigual porque o QL não tende a 1 e o IC não orbita nas proximidades de zero e sinalizam um abismo entre a UF com maior e a UF com menor produção de conhecimento, como documentam De França (2020) e De França e Sandoval (2021).

A distribuição dos resultados nas 27 UFs sinaliza que o Estado do Rio Grande do Sul é a única UF que se aproxima do estado ótimo de uma política pública de educação regionalizada, com QL tendendo a 1 e IC tendendo a zero. Também, na melhoria da distribuição da renda das famílias, a UF Rio Grande do Sul foi a única a obter score de eficiência em todas as abordagens.

Estes resultados, produzidos pela metodologia espectral, foram confirmados pela metodologia DEA e por análise econométrica, utilizando modelo quantílico. Por isso esses resultados são robustos para assistir reguladores em políticas públicas de produção de conhecimento.

5. Conclusões

Os achados da pesquisa, com aplicação da metodologia espectral, são robustos e sugerem que o modelo pode ser aplicado para avaliar o resultado de políticas públicas de produção de conhecimento na melhoria da produtividade, renda e emprego.

Os resultados sugerem que a produção regional de conhecimento no Brasil é desigual e que o Estado do Rio Grande do Sul é a Unidade Da FederaçãoUF que mais se aproxima da eficiência na produção de conhecimento que esse conhecimento melhora a renda das famílias.

Por fim, por se tratar de um artigo resumido, que já uma limitação, sugere- se a leitura da análise completa em De França (2020) e De França e Sandoval (2021). Com isto, espera-se que os achados apresentados possam auxiliar gestores de políticas públicas no monitoramento das ações, bem como pesquisadores na exploração do tema no desenvolvimento regional.

Referências

REVISTA ABRACICON SABER – ISSN: 2357/7428
EDIÇÃO Nª 38 – NOVEMBRO/DEZEMBRO de 2021 /JANEIRO DE 2022

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ISSN: 2357/7428