O método Genealógico de Michel Foucault, a sustentabilidade e a contabilidade
O método Genealógico de Michel Foucault, a sustentabilidade e a contabilidade
Por:
Thiago Vargas Maldonado
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O método Genealógico de Michel Foucault, a sustentabilidade e a contabilidade

Edição 41
ISSN: 2357/7428
Outubro, 2022
13 min

Versão Digital da Revista Abracicon Saber da Academia Brasileira de Ciências Contábeis

Ed. 41, ISSN: 2357/7428, Ago, Set, Out/2022, Brasília-DF
O método Genealógico de Michel Foucault, a sustentabilidade e a contabilidade
Especializando-se • Páginas na Versão Impressa: p. 65-67, 15 min
Por: Thiago Vargas Maldonado

Thiago Vargas Maldonado

Thiago Vargas Maldonado

Dr. em Contabilidade (PPGCONT/UFPR); Docente na Universidade Positivo/PR

Nasci no interior do Estado de Mato Grosso, na cidade de Juína, a 720 km da capital, onde realizei o primário escolar. Por volta dos 7 anos de idade, meus pais resolveram então se mudar para a capital e foi onde realizei todo o meu ensino fundamental entre instituições particulares e públicas. O ensino médio foi bastante conturbado e acabei por interromper os meus estudos durante algum tempo, vindo a me formar através do sistema de ensino de jovens e adultos (EJA), no final de 2009. Neste mesmo ano, prestei vestibular para o curso de Ciências Contábeis na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) para o campus de Tangará da Serra, a 260 Km de Cuiabá, instituição onde iniciei minha graduação em março de 2010.

Meu processo de formação durante a graduação foi sem dúvida um importante divisor de águas na minha vida, somente no segundo ano do curso consegui uma vaga de emprego na área contábil, no setor de contabilidade de uma empresa de médio porte da região. Este na verdade foi meu primeiro emprego formal (até então autônomo) e foi bastante importante para o estranhamento em relação às perspectivas teórica vs. prática e, também, para a compreensão de como fazia sentido o embasamento que eu estava tendo durante o curso frente aos desafios enfrentados na prática.

Foi durante o meu processo de formação que a docência e a pesquisa me chamaram atenção como carreira e, neste ponto, devo muito aos incentivos de alguns professores muito importantes tanto na formação e incentivo à carreira acadêmica, quanto no exemplo de profissionais, entre eles cito os professores Cleci Grzebieluckas, Cleiton Franco, Karine Medeiros Anunciato, Luciênio Rosa e Silva Jr e Magno Alves Ribeiro.

Terminei minha graduação ao final de 2013, recebendo a honra de aluno laureado da turma, e com a defesa do meu trabalho de conclusão de curso intitulado “Relações de poder e gênero no ambiente contábil: um olhar sobre as representações sociais das gestoras de escritórios de contabilidade de Tangará da Serra-MT e delegadas do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de Mato Grosso”, que discutiu as relações de gênero e as relações de poder no ambiente em questão. Em seguida, iniciei um MBA em auditoria, controladoria e finanças e, em março de 2014, ingressei como professor substituto por meio de um processo seletivo simplificado na própria Unemat, onde fiquei até o final de 2015. Foi uma adrenalina muito grande ingressar a carreira de docente, e agradeço em especial à professora Fabiana P. L. Lancelotti de Oliveira (que naquele momento era a coordenadora do curso de Ciências Contábeis) pela paciência e ajuda neste período, que foi decisivo para consolidar em mim a certeza da carreira docente, a qual eu tinha consciência do longo caminho em ensino e pesquisa que ainda teria pela frente.

Foi então que em 2015, convicto, resolvi me preparar para o próximo passo, o mestrado. Neste período de docência, já havia produzido e publicado em eventos algumas pesquisas e, ciente das limitações regionais em termos de oferta de cursos stricto sensu, precisei então programar toda a minha vida para uma mudança mais radical. Passei a analisar os programas de pós-graduação (PPG) com oferta de mestrados acadêmicos no Brasil, avaliando os potenciais programas que abrangeriam meu interesse de pesquisa em sustentabilidade. Acabei optando por realizar o processo seletivo do PPG em Contabilidade da Universidade Federal do Paraná, o qual para minha surpresa, terminei o processo seletivo aprovado em primeiro lugar.

Em 2016 iniciei o mestrado sob a orientação do prof. Luiz Panhoca, que sem dúvida é o grande responsável por minha formação, tanto acadêmica quanto humana. Sempre digo aos que pretendem ingressar nessa carreira que a relação orientador-orientado é mais importante, se não houver conexão é muito difícil produzir conhecimento. O mestrado, apesar de bastante rápido, produz um grande salto em termos de exigência em estudos, e foi uma época de muito aprendizado e novos horizontes.

Em novembro de 2016, fui, por meio do laboratório de pesquisa dirigido pelo prof. Panhoca e pelo convite do prof. Christian, fazer algumas aulas de epistemologia da sustentabilidade na Universidad Austral de Chile, em Valdívia, Chile. Na mesma ocasião, tive a oportunidade de conhecer o projeto da referida universidade nas comunidades Mapuches da região, além de participar do congresso transdisciplinar que ocorreu nesse interim.

Em 2017, findadas as disciplinas chegara o momento da produção da dissertação. Em contato com pesquisadores do Laboratório de Estudos do Futuro da Universidade de Turku na Finlândia, surgia um interesse de parceria. Para isto conhecemos então uma modelagem para análise de metabolismos criados neste laboratório em parceria com diversas instituições por toda a Europa, onde nos concentramos em uma específica chamada Multi-scale integrated analysis of societal and ecosystem metabolism (MuSIASEM). A partir de uma lacuna sobre a aplicabilidade do modelo em micronarrativas, resolvemos aplicá-lo na cadeia produtiva da Castanha da Amazônia (também conhecida como Castanha do Pará ou Castanha do Brasil). Para realizar a pesquisa, foi necessário ir a campo, em uma cooperativa localizada em uma reserva extrativista no Município de Juruena/MT, onde, com muito esforço, tendo em vista à falta de financiamento para pesquisas no Brasil, realizamos a coleta de dados, que produziu indicadores interessantes e apontou alguns desafios ao modelo Europeu – a posterior rendeu duas publicações qualis A1 para o programa.

Ainda em 2017, durante o processo de escrita da dissertação, surge uma nova oportunidade: o processo seletivo para o doutorado. A dissertação foi defendida em fevereiro de 2018 e em março já se iniciavam as aulas do doutorado, que segui sendo orientado pelo professor Panhoca. Em 2018, foi o momento de voltar as salas de aula, quando fui convidado a ingressar o corpo docente da Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas do Paraná onde lecionei e fui coordenador do curso de Ciências Contábeis (2019) até o final de 2020. Concomitantemente, em setembro de 2018, também convidado, ingressei o corpo docente da Fapar/FAC (Faculdades Paranaenses) até agosto de 2022, ao qual agradeço à prof. Cibeli Duarte e aos alunos da instituição a confiança e levo com muito carinho e orgulho os profissionais formados ali.

Em julho de 2019, aprovamos um artigo no congresso bienal da International Association for Study of the Commons (Iasc), que ocorreu em Lima, Peru, onde também mediei uma das seções. Durante o doutorado, o aprofundamento do âmbito científico, em conjunto com uma curiosidade natural, levou-me a passear pelas outras áreas do conhecimento correlatas à contabilidade, o que ampliou minha visão da área.

Neste sentido, surge um interesse especial pela pesquisa crítica na área que hoje, no Brasil, conta com poucos pesquisadores especializados. O grande desafio foi de que forma abordar isto dentro da minha corrente de pesquisa. Assim, é a partir de discussões internas a respeito de quanto o conceito de sustentabilidade, conforme entendemos e conforme foi colocado, era de fato aplicado na contabilidade que optamos pela utilização do método genealógico de Michel Foucault. A partir de uma leitura crítica da ambiente acadêmico da contabilidade, defendi em 2022 a tese de doutorado intitulada “Discursos relacionados a sustentabilidade pelos pesquisadores de formação contábil: uma abordagem a partir de Michel Foucault, que interroga como a contabilidade e os discursos de sustentabilidade produzidos na área fomentam um maquinário de biopoder, que transpassa os corpos e marginalizam os que se desviam do padrão esperado. Atualmente sou professor na Universidade Positivo em Curitiba/PR e sigo atuando em áreas de pesquisa relacionadas à sustentabilidade e à pesquisa crítica.